terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Como Virgínia e Seus Pulmões




coloco pedras em meus bolsos
em meus sapatos
visto-me das sobras alheias
...

morro acidentalmente todos os dias
seguro de que não me alcançarás
nem sequer um rastro de mim absorto
rastejo reverse (graffite) da galeria subterrânea
momento e amônia na luz cega do poste
um campari manchando a tinta
do branco gelo a escorrer gramática
Klimt pintou a vida achando que a morte é certa
e tu não notara que fui humilhado
não percebestes que estava ferido
 
.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Dor, Lágrimas, Solidões e Outros Monstros






Lampejo Noturno

a criação não escolhe hora
são monstros da modernidade
nos desafiam e nos mordem
dentes afiados de insonia
são olhos de frankfurtianos
um Benjamin a rasgar sonhos
de açoitar  Habermas e Adornos
com a navalha da crítica
fita o presente sobre escombros
que o passado nos empresta!

Flores e Melancolia

sem par sobre o chão frio
da saudade a arrebatar tons
no compasso da solidão
dançam as flores para um novo outubro...

Jogo Mítico

percebo daqui,
como na arte
o jogo se instaura
e ganha forma mítica.
...
um Joseph Beuys a explicar Arte para uma lebre morta.

Três Momentos

lê-lo
o vejo
o poema
frente ao espelho
me olha de volta!

Filosofando Quintas

seus suores e suas lágrimas
petrificadas pelo pensamento
e as dádivas de quem dará...!

Ser para Nada

o ser-poeta se entorpece, mesmo
bebe da palavra
do vazio
do silêncio
e o encanto em sua alma desprende-se
ecoa na confusão dos sentidos
onde cheiro é tátil
som é miragem
verbo é tudo
e nada...

Véla-me

pósto-me frente essa ária de veneno
como quem fita o ocultar dos medos
e o revelar-se traumas criptografados


.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A Dona dos Olhares


 

A visão inspira a dona que admira o espelho
Batom vermelho, cílios negros; segredo e rímel
Contrastando com a íris de leve tom castanho


Em seu rosto, desenho de curvas para um beijo
Um sorriso fabricado sob medida, ao seu nível
Sensualidade que se ajusta ao desejo e tamanho

Quem arruma toda forma que veste essa moça?

Sai de casa e desafia o Sol a lhe dourar a pele
Como quem nasce da luz e alimenta-se da mesma
Surge à tarde entre os olhares curiosos da esquina

No transeunte, no estudante, na doçura do moleque
Nas garotas que se intrigam com sua roupa e beleza
Nada além de suas bolsas e pulseiras de menina

Onde há ar tão puro que não falta nessa moça?

Quando o vento em seu cabelo desflora as retinas
Como um sonho que confunde o poeta mais doce
Se escreve sobre a ninfa ou navega em seus mares?

Que público elegeria a menina para ser sua rainha?
Capaz de mudar o tempo sem nunca perder a pose
No espelho, no Sol, nos mares, a dona dos olhares


.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Abraço não-tardio



sem essa pressa para beijar os verbos
presentes em tuas palavras, as não ditas
distantes da tua casa ligada ao veloz código
dos arrebóis e lilases sonhados por Van Gogh
ou como um Bashô acariciando doces sonhos
entre suítes burlescas e ventos inundando ilhas
linhas poéticas e caos amarrados aos pés de Hermes
amanheces em todos os mil e um dias o Assis
breviário para seres, números e poetas

quinta-feira, 14 de junho de 2012

How many get the way I feel now


I always faked my smile
There's so many careless angels responsible for me
They give me disease
They give me a pain in my neck to feed off me
John Frusciante, "Anne" in Curtains album, 2004.




o meu (coração) transborda
de dor
e em recolhimento
fixa-se na desolação
...
meu triste acalanto.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Do Interesse Anônimo






Insana Manhã

cansar e entardecer
eis que de manhã
a manha ganha força...


Traum

devir anímico para além do ser...

Tragédia Aviculturista

da visita breve de um Suí
estupefato

penugens de um Sassariqueiro
calo na garganta

que Andorinha lampeja à tarde?
leva erva daninha

sulamérica daqui
trópico tropical

mal a secar Beliscões
no Urubú do Ver-o-pêso

de eurrítmica plurística
o Bem-te-ví já bem esposto

no cabo de alta-tensão

tragédia aviculturista.


Dante Exausto

"... cansado do peso
da (minha) cabeça"
do jogo linguístico
e, mesmo elas:
as palavras,

versam, tramam
como algozes
o nosso desfecho


Celibatários

a mesma dama de vermelho
da espera impaciente
onde cada olhar independente
remonta o mesmo enredo

e desperta nas nove gentes
o desejo, o olor e o medo
no atraso frente ao espelho
se guardo sentimentos perenes


Outdoors

um poema nascido da dor
ou da angústia pálida
palavras-nuvens-áridas
assolam a alma do autor

peso hermético da coisa
do objeto-ser no mundo
presença sem ter assunto
verso duro de uma glosa

morre a flor, o ser só
seu nome e o nome da moça
evaporam de um outdoor


Como Michelangelo Pecou Naquele Teto

já Rembrandt tentara extrair luzes das sombras e
como erro de um Deus findou em ceder sombras à luz


Uma Vez

Me fiz sr. para me expor em extrema latêncía
(perceba a redundància), própria de uma pessoa - qual o deleite e o prazer - a praiar manias.
"Minha areia sem teus pés nus
quase no te quis só para mim
fiz da paisagem essa Bruma

já que não estás ao meu lado
e estando o mesmo, enfim"


Nada

revelada ou velada, a palavra em suma apresentação
no devir da coisa, a verdade não alcançada
onde 2 não é nada
longe a proposição de um signo
da forma expressa, escrita ou impressa
dizer apenas como a coisa é


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Stockhausen Riria



Margaridas e samambaias douram-se a luz desse triste maio
Aspiro ao pairar de um calor que já alude aos campos verdes
Tão leve que a própria pena de um pintor chinês se esvai ali
As casas, pagodes, esperas sem fim de amarrotar as solidões
No desdém dos ventos marcando os quatro cantos da janela
Em n-dimensionais das coisas indubitáveis a arrolar dúvidas
Sobre o fim, no ir e vir fortuito, das sombras a verbos em pó
Pobres e virgens os vasos dilatam feridos com febre o húmus
Versam o nome da boca por sobre o inalar de rosas alheias
O jogo se encaminha como se em abstração se compusesse
E mais de um jogador vem a enredar-se de repente assim
Vítimas que se apresentam, se opõem e se desmaterializam
Finda a forma ríspida, rígida e morna de um poema atonal


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Poema em Negro*



Não é minha voz que enrouquece,
Não são meus pensamentos que se turvam,
Tampouco minhas mãos gesticulando confusas.
Não, terminantemente não está em mim a lucidez que teus olhos querem ver.
Fiz-me belo e alinhado como Wilde,
Límpido e transparente como Lorca
E mesmo assim a rima deixou teus lábios sem nada beijar.
Cortina negra,
Parte que decora a casa, meu ambiente,
Estronda em ti o medo do que não é reflexo.
Não mereces assim o meu grito nos espaços que teces para a história.
Sou o poeta do canto não esperado,
Com o fundo lírico cortante e trágico,
Não esperarei ser trasladado contigo para o país dos homens felizes!


*In: Eus ou os tênis usados de Virgínia Olff, poesia, no prelo

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O Crivo e a Migalha ou Freud Interpreta (Erroneamente) os "Sapatos" de Van Gogh



Como os sapatos novos que fazem uma viagem longa a uma cidade vizinha
As tristes meias velhas e gastas do andarilho calejado
A esconder a dor ou a melancolia em acordes dos quadriculados
Fase azul de um Picasso nos retalhos daquela mulher mendiga
Luminárias e luminosos são seu Sol nas cobertas ao entardecer
Não aquecem nem trazem esperança para quem só ganha por esmola...
Poucas ou muitas as palavras subordinadas a menor recompensa.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Seleta




Homo pictóricus


a vanguarda adormecida que Dalí anuncia
parusia da doutrina escatológica
quiçá as cores de um calafate
aparecessem em Magritte
vicejantes e embriagados
"la máquina de gorjear", vamos a Klee!
o objeto é categórico, homens bucólicos
admiram a estrela
para Miró
para onde à negra?
no alaúde de madeira
on line figura prisioneira
hóspede ou manequim
De Chirico vivo vivo
muito vivo
Belchior bebendo o antigo
de Caetano a Gauguim
rejuvenece assim
assusta a mão que o toca
de fora, a nota descendo escalas
viagem de um jovem Duchamp
ao centro de Laforgue


(encore à cet astre)


Duchamp sabe que delira
nas Impressions d' Afrique...!



na contracapa
teatro
a imagem
imaginas tudo
eu
tu
nós
cada personagem
visgo da folha
o papel é teu
soletrei o tempo
ficastes à léguas de mim
fui até a outra margem
vi que a coxia escondia muito mais
parte da semente era da trapezista
noutra margem: o palhaço!

vês ator, só o que te resta?
nossas praças...


o poeta canta as duas
banhadas de sal e areia
como ânforas e ébrios


Cheiro precoce


bilboquê
de
rosa-botão
na sombra
com
àgua
e
sabão



Íris, bastonetes, pupilas e outras olhadas


A análise clínica, dura, quase intransponível, eurrítmico tácito consentido da greta vocabular científica, não deixa de propalar as cinestesias que a poetisa empresta ao tomo perceptivo da visão.



O que escreves, crônica tácita, quase fábula de um artista soturno.
Num corpo em tessitura com as amarras do existir: num limite os sentidos, sentires; noutra extremidade, repertório de experiências...


Mesmo o poeta "ser per si” que se evade da mais arguta frase ao se estender ou imbricar-se...querer é estranho; a vontade domestica o homem, algo em si de dúvida, razão e altivez. Pronto! Estamos envoltos na névoa quente do passado do que somos.



segunda-feira, 26 de março de 2012

O Diorama de Bluma




Não sei se tela ou filigrana
O seu olhar é lâmina dissecante
Que penetra na carne
Na alma a qualquer instante
Daguerreótipo de único lance, o momento definitivo!
Qualquer pequeno grão de estrela que caía cintilava a madrugada fria
(Um sobrecéu a abrir-se diante de sua janela!)
Colige todo o sentimento ensimesmado
E eu ator desarmado
Sucumbi a seus olhos insistentes; olhos de platéia, centrada em linha!

Ser serenado ou incômodo
Sem se ater a quem mais queira
Vi do outro lado da lente feminina minha face prisioneira
Meu coração acelerado
Dissidente apavorado
De parvo teor acólito
O objeto afeto de sua mira
Incólume projétil desguarnecido e imóvel
Tão desajeitado aos raios da retina

O que chamou sua atenção nessa triste aparência?
Se o que guardo nos bolsos desfiados
São gastos há tempos ruminados
Nos quase trinta anos que esta vida me empresta
Essa existência a espalhar fragmentos de réstia
Viraria partículas no flash alinhado
Em sua prosa fotográfica que documenta o instante inato
Tornando icônica a sombra que reanima
A mesma forma que agora é sua e não mais minha...!


quinta-feira, 22 de março de 2012

Onde Bebo as Palavras


 



Sehen [Bild]

se te vejo, paro, penso
viro lenço fino no teu rosto
e se me vens como imagem
tinta, tela, afã da miragem
um véu de poeira avança
dançam teus olhos sobre os meus



essa vertiginosa tendência a inebriar-se
gosto cálido do encontro enlevado no labirinto
reflete no ser amado uma conjetura ébria...

Eu-aviso e a Ausência

O poetizar e o desejo no emaranhado das peles
Como a doce nostalgia pode consumir a alma...?
Fica em mim a parte que sou de alguém ausente...
Quem é na chegada que possuo apenas na partida?


Doce melancolia...

Desgosto de inquietação
Que olhos são esses?
A terra treme
E de antenome
Se veste o meu
O teu coração
...no Serenar a vida perde o ritmo
Minhas flores cheias transbordam


Da Natureza em Mim

e nos conduza a
uma luz augural
toda criatura


A Cidade

São Paulo assusta quem chega.
Comovidos com as multiplicações das pedras,
a cada degrau,
à sorte,
lançam-se jovens, loucos, adultos, aventureiros,
todos entretidos com a improvável felicidade


Somos homens pálidos demais, categóricos burlescos, amantes das
Vênus dotadas de misteriosos desejos, todos fatos que bloqueiam ou suprimem a possibilidade do vislumbre...
Laura-Mulher apenas na lembrança, nada mais!


*Laura é uma personagem criada por Erllen Nadine, escritora rara, e a acompanha em algumas prosas dotadas de uma pura sensibilidade e belas descrições determinantes na sua escrita.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Dísticos



Para uma flor


"Flor do tempo em espiral
Na queda livre da razão
Música, poesia e emoção
Cachos de uvas no varal
...          - Ampelidáceas."


Dama de mão nua


esses verbos deslizantes
os que desnudam a dona
os que acusam o amante
no desejo tão áspero
incitante dessa escrita


Assum-preto


aquela sem demiurgo
obsoleta flecha
sem alvo
sem cor
Poe
presságio da dor
da pergunta
(antes muda!)
"...não faltava nada"
agora sei com quantos signos se faz uma noite...


Um Van Gogh distraído


de ignorar a dor esparzir na paleta do pintor
onde giram astros de ocre sobre massas de cobaltos
quais os croquis de opalescência tortuosa e turva
um semeador a soçobrar no papel dores de azeviche
por resvalo de distração um pigmento na orelha


Patologia antropocêntrica


Mergulhei no mar da história, história do ser humano. Um fóssil, quase um lamento, mero ancestral das coisas imperdoáveis. Tentei ver um reflexo confortador... me escapou um soluço; prendi o choro.
É...depois de tudo, quase não respiro!


Ao propósito


A relutância que o ser-homem-noturno-cibernético e boêmio trava contra si e contra a sua própria conservação é ínfima e diametralmente oposta a falida concepção, redundante zigoto resultado de qualquer ato: no religioso, comungar na fé o mesmo corpo sagrado; num quarto sobre a cama, dois amantes fecundando ou não gametas.
"Não cuidamos do mundo um segundo sequer", disse Chico.
Dormir no conforto dos seus lençois e rezar também não resolve.


Destilado


O eterno fim no derradeiro devir fortuito principia a palidez dos boêmios. Na cidade velha cansada e habitual, prefiro repudiar o alvoroço, curtir minha dor plácida, torturante. Morrissey ressonante, a fagulha do mistério... Exit Music!

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sábado, 18 de fevereiro de 2012

Quatro Tempos ou Canção Alegórica da Dor



Homens tolos sofrem tanto
Não percebem que seus olhos
Não tem luz, yeah, são sem luz

Sós sem rimas, nem pra quem
Lares tortos destelhados, Baby
Estão nus, yeah, bem nus

Os nomes mudam em tempos
Mas sempre se definem frios
 Assim, Ooh, assim

Lugar não há dentro de ti
Um escuro e dor veste o dia
Só o fim yeah, só o fim...

Lugar não há dentro de ti
Um escuro e dor veste o dia
Não tem luz, yeah, sem luz... oOH!



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Alomorfia ou Taxonomia da Dor II (Prolegômenos)


Resposta nº 1
Escrever também requer um pouco de ver-se a certa distância. Cálculo burlado na linha fria do não-dizer fadado ao acerto de um choque térmico.
Resposta nº 2:
Experimentar perder o fôlego enfiando a cabeça no aquário do loft é um ato conceitual, não? Observe que Kant se ausenta momentaneamente da aspereza insólita do objeto moderno.
Vidro, água e uma cabeça que observa peixes ao contrário, tão caro, o sangue coagula sais de banho. Um ser humano com ardor no globo ocular, calculando a própria manifestação do sentir em devaneio torto. Uma pariação retrógada com cheiro de sardinha no ecrã da realidade factual.


Resposta nº 3
A dor para passar de estado emocional, pura sensação, deve ser tomada não mais nesta condição e sim como uma palavra, morfema "rarefeito" em estado puro, ou seja, se necessário, ausente.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alomorfia ou Taxonomia da Dor



O poeta exige e, 
mesmo no lirismo, 
nega-se a seu próprio sentir verdadeiramente, 
tal "a dor que deveras sente" 
( Pessoa  exigente) 
no descompasso de sua sede literária. 
Duas coisas lhe ocorrem: 
mergulhado num quarto vazio, 
tentar arrumar a mente cansada 
e, no entanto, 
comparar-se a Ephemeridae de tão curta vida, 
ser prisioneiro de seu destino, 
servir de isca aos peixes.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Poesia Hermética




       A face oculta que desafia as lentes de olhos tão clínicos
      Não consegue conter no corpo a alma de um poeta em prelúdio
      A cada sílaba, vãos esforços, frágeis vasos criptografados
      Novos versos de descontentamento decrescem e viram silêncio

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O Moderno Contido em Margens de Finais

   

          
                                                Aos poucos e prazeres funestos. Pedras rolando para cima. O clima nunca mais vai ser ameno.  A menos, é claro, que todos nos deliciemos desse delírio impúdico: o poeta e seu vício... à mão.
 

Querer.
Como?
Ser um anjo guiando as mãos de um profeta?
De conduzir, meus olhos quase não vislumbram o que agrada, um farol.
A não ser que "minhas considerações" atuais surpreendam, como surpreso estou...
Esses vícios de mãos e olhos dos poetas serão o ópio ou o vinho que Charles Baudelaire tragará dessas gerações?
A catarse (poética) era o amor, o belo e a busca antes na filosofia de Platão: o ideal; (...) à mão e vendo as tuas, reconheço nesse mar revolto, não com margens de finais, mas de reencontro com o teu coração.
Lá onde chove e se semeia.
Espero andar e ver contigo esse nascimento...

Posfácio

Canta comigo canções de cais, de mar; logo vou ancorar em teu porto.
Que rouco tentarei expressar o porquê de minha demora.
Que quando a chuva da saudade caía as Ilhas de kalyptō encobriam minha vista já tão cansada.
"Nunca mais" é uma veste escura que não queremos. Contrasta com aquela forma clara por mim tão desejada.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Lamentos de Capitão Greenfell



Sou eu a noite mais remota
Sou eu o peso sem medida
Sou o cândido largo de um bote
Me desprezo ante dor despercebida

Mas não vou orgulhar-me, ó mãe
Se assim tu me queres “Província”
E aqui te sufoco com a mão
De quem teve razão ínfima

No olhar não se vê o teu porto
A beirar toda rota perdida
O que tem esse homem sem corpo

Que da alma privou-se a vida?
E do vento perdeu-se o sopro
Há quem diga que vive escondida.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Urb. 26b, 27a A Desculpa do Escultor






Asas de mármore ou de gesso
Imaginas que nunca voem
O ar casto e negro da noite
Talvez seja esse o preço
Na oficina de um escultor
Cabeças de argila cantam
Poetas alados amam...
Borboletas cheiram à flor.


Uma Nova Vênus de Willendorf

Quero fazer-te minha “pequena-grande- musa”
Eloquentemente viajo em traços que busco pela minuciosa existência de teu colibri
E busco... E busco teu existir
E vejo tão somente, simplesmente tua poeira
E penso que foi, mas estás dentro do meu coração
Singelo, não quero ser imortal
Não sou um deus
Nem você uma musa qualquer