domingo, 26 de fevereiro de 2012

Dísticos



Para uma flor


"Flor do tempo em espiral
Na queda livre da razão
Música, poesia e emoção
Cachos de uvas no varal
...          - Ampelidáceas."


Dama de mão nua


esses verbos deslizantes
os que desnudam a dona
os que acusam o amante
no desejo tão áspero
incitante dessa escrita


Assum-preto


aquela sem demiurgo
obsoleta flecha
sem alvo
sem cor
Poe
presságio da dor
da pergunta
(antes muda!)
"...não faltava nada"
agora sei com quantos signos se faz uma noite...


Um Van Gogh distraído


de ignorar a dor esparzir na paleta do pintor
onde giram astros de ocre sobre massas de cobaltos
quais os croquis de opalescência tortuosa e turva
um semeador a soçobrar no papel dores de azeviche
por resvalo de distração um pigmento na orelha


Patologia antropocêntrica


Mergulhei no mar da história, história do ser humano. Um fóssil, quase um lamento, mero ancestral das coisas imperdoáveis. Tentei ver um reflexo confortador... me escapou um soluço; prendi o choro.
É...depois de tudo, quase não respiro!


Ao propósito


A relutância que o ser-homem-noturno-cibernético e boêmio trava contra si e contra a sua própria conservação é ínfima e diametralmente oposta a falida concepção, redundante zigoto resultado de qualquer ato: no religioso, comungar na fé o mesmo corpo sagrado; num quarto sobre a cama, dois amantes fecundando ou não gametas.
"Não cuidamos do mundo um segundo sequer", disse Chico.
Dormir no conforto dos seus lençois e rezar também não resolve.


Destilado


O eterno fim no derradeiro devir fortuito principia a palidez dos boêmios. Na cidade velha cansada e habitual, prefiro repudiar o alvoroço, curtir minha dor plácida, torturante. Morrissey ressonante, a fagulha do mistério... Exit Music!

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7 comentários:

  1. Obrigado pela visita.
    De vez em quando é bom "mergulhar na história do ser humano" mesmo que daí venham lágrimas.
    Abraço e boa semana

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  2. um van gogh distraído perscrutando a amplidão do girassol,


    abraço

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  3. (Ar)dor mercy nas palavras
    Cavalinhos de pau
    Jogos infantis
    Trocadas as chaves
    Chamei por Gombrich
    Que salivo do poeta
    Expatriadas sílabas
    Clamando hospícios
    Eras parte do mistério
    Anciã sem rugas
    E esconder tartarugas
    De beber lebre
    Jocasta ciumenta
    Beira da loucura
    Dadaísmo acadêmico
    Horrível desmesura
    Ante-sala do tédio
    Oiticismo ameaçado
    Ser crisálida cega
    Visava o desvelo
    Qualquer esquina do descuido
    Na página ao lado
    Nos olhos

    até porque morava na língua,
    bem aqui ao lado
    em destilação contínua
    para todo o desmembramento corporal.

    havia uma orelha, uma só,
    que luzia acima de qualquer órgão
    na agonia celestial
    de todos os alinhamentos:
    impostos, jamais desejados.

    talvez por isso os girassóis
    tenham mirrado do lado de fora da tela.

    abraço!

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  4. Uma surpresa recíproca, eu diria!
    Tão agradável, o seu canto... Será que tem um lugar pra mim, nessa madrugada?

    Grande abraço.

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  5. Olá,
    Obrigada por sua visita e comentário em meu blog. Achei delicada e poética sua observação. Volte sempre que quiser, é muito bem-vindo!
    Sobre seus escritos, muito interessante sua forma de colocar a expressão no "papel". Gostei especialmente do "Para uma flor" e "Assum-Preto". Tocante. Abraço de poesia! Boa noite de sexta-feira!

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  6. Bom dia!
    Muito bom ler poemas tão cheio de palavras
    que inundam a alma.
    Grande abraço
    se cuida

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