segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Alomorfia ou Taxonomia da Dor II (Prolegômenos)


Resposta nº 1
Escrever também requer um pouco de ver-se a certa distância. Cálculo burlado na linha fria do não-dizer fadado ao acerto de um choque térmico.
Resposta nº 2:
Experimentar perder o fôlego enfiando a cabeça no aquário do loft é um ato conceitual, não? Observe que Kant se ausenta momentaneamente da aspereza insólita do objeto moderno.
Vidro, água e uma cabeça que observa peixes ao contrário, tão caro, o sangue coagula sais de banho. Um ser humano com ardor no globo ocular, calculando a própria manifestação do sentir em devaneio torto. Uma pariação retrógada com cheiro de sardinha no ecrã da realidade factual.


Resposta nº 3
A dor para passar de estado emocional, pura sensação, deve ser tomada não mais nesta condição e sim como uma palavra, morfema "rarefeito" em estado puro, ou seja, se necessário, ausente.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alomorfia ou Taxonomia da Dor



O poeta exige e, 
mesmo no lirismo, 
nega-se a seu próprio sentir verdadeiramente, 
tal "a dor que deveras sente" 
( Pessoa  exigente) 
no descompasso de sua sede literária. 
Duas coisas lhe ocorrem: 
mergulhado num quarto vazio, 
tentar arrumar a mente cansada 
e, no entanto, 
comparar-se a Ephemeridae de tão curta vida, 
ser prisioneiro de seu destino, 
servir de isca aos peixes.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Poesia Hermética




       A face oculta que desafia as lentes de olhos tão clínicos
      Não consegue conter no corpo a alma de um poeta em prelúdio
      A cada sílaba, vãos esforços, frágeis vasos criptografados
      Novos versos de descontentamento decrescem e viram silêncio

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O Moderno Contido em Margens de Finais

   

          
                                                Aos poucos e prazeres funestos. Pedras rolando para cima. O clima nunca mais vai ser ameno.  A menos, é claro, que todos nos deliciemos desse delírio impúdico: o poeta e seu vício... à mão.
 

Querer.
Como?
Ser um anjo guiando as mãos de um profeta?
De conduzir, meus olhos quase não vislumbram o que agrada, um farol.
A não ser que "minhas considerações" atuais surpreendam, como surpreso estou...
Esses vícios de mãos e olhos dos poetas serão o ópio ou o vinho que Charles Baudelaire tragará dessas gerações?
A catarse (poética) era o amor, o belo e a busca antes na filosofia de Platão: o ideal; (...) à mão e vendo as tuas, reconheço nesse mar revolto, não com margens de finais, mas de reencontro com o teu coração.
Lá onde chove e se semeia.
Espero andar e ver contigo esse nascimento...

Posfácio

Canta comigo canções de cais, de mar; logo vou ancorar em teu porto.
Que rouco tentarei expressar o porquê de minha demora.
Que quando a chuva da saudade caía as Ilhas de kalyptō encobriam minha vista já tão cansada.
"Nunca mais" é uma veste escura que não queremos. Contrasta com aquela forma clara por mim tão desejada.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Lamentos de Capitão Greenfell



Sou eu a noite mais remota
Sou eu o peso sem medida
Sou o cândido largo de um bote
Me desprezo ante dor despercebida

Mas não vou orgulhar-me, ó mãe
Se assim tu me queres “Província”
E aqui te sufoco com a mão
De quem teve razão ínfima

No olhar não se vê o teu porto
A beirar toda rota perdida
O que tem esse homem sem corpo

Que da alma privou-se a vida?
E do vento perdeu-se o sopro
Há quem diga que vive escondida.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Urb. 26b, 27a A Desculpa do Escultor






Asas de mármore ou de gesso
Imaginas que nunca voem
O ar casto e negro da noite
Talvez seja esse o preço
Na oficina de um escultor
Cabeças de argila cantam
Poetas alados amam...
Borboletas cheiram à flor.


Uma Nova Vênus de Willendorf

Quero fazer-te minha “pequena-grande- musa”
Eloquentemente viajo em traços que busco pela minuciosa existência de teu colibri
E busco... E busco teu existir
E vejo tão somente, simplesmente tua poeira
E penso que foi, mas estás dentro do meu coração
Singelo, não quero ser imortal
Não sou um deus
Nem você uma musa qualquer