sexta-feira, 20 de abril de 2012

O Crivo e a Migalha ou Freud Interpreta (Erroneamente) os "Sapatos" de Van Gogh



Como os sapatos novos que fazem uma viagem longa a uma cidade vizinha
As tristes meias velhas e gastas do andarilho calejado
A esconder a dor ou a melancolia em acordes dos quadriculados
Fase azul de um Picasso nos retalhos daquela mulher mendiga
Luminárias e luminosos são seu Sol nas cobertas ao entardecer
Não aquecem nem trazem esperança para quem só ganha por esmola...
Poucas ou muitas as palavras subordinadas a menor recompensa.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Seleta




Homo pictóricus


a vanguarda adormecida que Dalí anuncia
parusia da doutrina escatológica
quiçá as cores de um calafate
aparecessem em Magritte
vicejantes e embriagados
"la máquina de gorjear", vamos a Klee!
o objeto é categórico, homens bucólicos
admiram a estrela
para Miró
para onde à negra?
no alaúde de madeira
on line figura prisioneira
hóspede ou manequim
De Chirico vivo vivo
muito vivo
Belchior bebendo o antigo
de Caetano a Gauguim
rejuvenece assim
assusta a mão que o toca
de fora, a nota descendo escalas
viagem de um jovem Duchamp
ao centro de Laforgue


(encore à cet astre)


Duchamp sabe que delira
nas Impressions d' Afrique...!



na contracapa
teatro
a imagem
imaginas tudo
eu
tu
nós
cada personagem
visgo da folha
o papel é teu
soletrei o tempo
ficastes à léguas de mim
fui até a outra margem
vi que a coxia escondia muito mais
parte da semente era da trapezista
noutra margem: o palhaço!

vês ator, só o que te resta?
nossas praças...


o poeta canta as duas
banhadas de sal e areia
como ânforas e ébrios


Cheiro precoce


bilboquê
de
rosa-botão
na sombra
com
àgua
e
sabão



Íris, bastonetes, pupilas e outras olhadas


A análise clínica, dura, quase intransponível, eurrítmico tácito consentido da greta vocabular científica, não deixa de propalar as cinestesias que a poetisa empresta ao tomo perceptivo da visão.



O que escreves, crônica tácita, quase fábula de um artista soturno.
Num corpo em tessitura com as amarras do existir: num limite os sentidos, sentires; noutra extremidade, repertório de experiências...


Mesmo o poeta "ser per si” que se evade da mais arguta frase ao se estender ou imbricar-se...querer é estranho; a vontade domestica o homem, algo em si de dúvida, razão e altivez. Pronto! Estamos envoltos na névoa quente do passado do que somos.