segunda-feira, 28 de maio de 2012

Do Interesse Anônimo






Insana Manhã

cansar e entardecer
eis que de manhã
a manha ganha força...


Traum

devir anímico para além do ser...

Tragédia Aviculturista

da visita breve de um Suí
estupefato

penugens de um Sassariqueiro
calo na garganta

que Andorinha lampeja à tarde?
leva erva daninha

sulamérica daqui
trópico tropical

mal a secar Beliscões
no Urubú do Ver-o-pêso

de eurrítmica plurística
o Bem-te-ví já bem esposto

no cabo de alta-tensão

tragédia aviculturista.


Dante Exausto

"... cansado do peso
da (minha) cabeça"
do jogo linguístico
e, mesmo elas:
as palavras,

versam, tramam
como algozes
o nosso desfecho


Celibatários

a mesma dama de vermelho
da espera impaciente
onde cada olhar independente
remonta o mesmo enredo

e desperta nas nove gentes
o desejo, o olor e o medo
no atraso frente ao espelho
se guardo sentimentos perenes


Outdoors

um poema nascido da dor
ou da angústia pálida
palavras-nuvens-áridas
assolam a alma do autor

peso hermético da coisa
do objeto-ser no mundo
presença sem ter assunto
verso duro de uma glosa

morre a flor, o ser só
seu nome e o nome da moça
evaporam de um outdoor


Como Michelangelo Pecou Naquele Teto

já Rembrandt tentara extrair luzes das sombras e
como erro de um Deus findou em ceder sombras à luz


Uma Vez

Me fiz sr. para me expor em extrema latêncía
(perceba a redundància), própria de uma pessoa - qual o deleite e o prazer - a praiar manias.
"Minha areia sem teus pés nus
quase no te quis só para mim
fiz da paisagem essa Bruma

já que não estás ao meu lado
e estando o mesmo, enfim"


Nada

revelada ou velada, a palavra em suma apresentação
no devir da coisa, a verdade não alcançada
onde 2 não é nada
longe a proposição de um signo
da forma expressa, escrita ou impressa
dizer apenas como a coisa é


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Stockhausen Riria



Margaridas e samambaias douram-se a luz desse triste maio
Aspiro ao pairar de um calor que já alude aos campos verdes
Tão leve que a própria pena de um pintor chinês se esvai ali
As casas, pagodes, esperas sem fim de amarrotar as solidões
No desdém dos ventos marcando os quatro cantos da janela
Em n-dimensionais das coisas indubitáveis a arrolar dúvidas
Sobre o fim, no ir e vir fortuito, das sombras a verbos em pó
Pobres e virgens os vasos dilatam feridos com febre o húmus
Versam o nome da boca por sobre o inalar de rosas alheias
O jogo se encaminha como se em abstração se compusesse
E mais de um jogador vem a enredar-se de repente assim
Vítimas que se apresentam, se opõem e se desmaterializam
Finda a forma ríspida, rígida e morna de um poema atonal


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Poema em Negro*



Não é minha voz que enrouquece,
Não são meus pensamentos que se turvam,
Tampouco minhas mãos gesticulando confusas.
Não, terminantemente não está em mim a lucidez que teus olhos querem ver.
Fiz-me belo e alinhado como Wilde,
Límpido e transparente como Lorca
E mesmo assim a rima deixou teus lábios sem nada beijar.
Cortina negra,
Parte que decora a casa, meu ambiente,
Estronda em ti o medo do que não é reflexo.
Não mereces assim o meu grito nos espaços que teces para a história.
Sou o poeta do canto não esperado,
Com o fundo lírico cortante e trágico,
Não esperarei ser trasladado contigo para o país dos homens felizes!


*In: Eus ou os tênis usados de Virgínia Olff, poesia, no prelo