segunda-feira, 26 de março de 2012

O Diorama de Bluma




Não sei se tela ou filigrana
O seu olhar é lâmina dissecante
Que penetra na carne
Na alma a qualquer instante
Daguerreótipo de único lance, o momento definitivo!
Qualquer pequeno grão de estrela que caía cintilava a madrugada fria
(Um sobrecéu a abrir-se diante de sua janela!)
Colige todo o sentimento ensimesmado
E eu ator desarmado
Sucumbi a seus olhos insistentes; olhos de platéia, centrada em linha!

Ser serenado ou incômodo
Sem se ater a quem mais queira
Vi do outro lado da lente feminina minha face prisioneira
Meu coração acelerado
Dissidente apavorado
De parvo teor acólito
O objeto afeto de sua mira
Incólume projétil desguarnecido e imóvel
Tão desajeitado aos raios da retina

O que chamou sua atenção nessa triste aparência?
Se o que guardo nos bolsos desfiados
São gastos há tempos ruminados
Nos quase trinta anos que esta vida me empresta
Essa existência a espalhar fragmentos de réstia
Viraria partículas no flash alinhado
Em sua prosa fotográfica que documenta o instante inato
Tornando icônica a sombra que reanima
A mesma forma que agora é sua e não mais minha...!


quinta-feira, 22 de março de 2012

Onde Bebo as Palavras


 



Sehen [Bild]

se te vejo, paro, penso
viro lenço fino no teu rosto
e se me vens como imagem
tinta, tela, afã da miragem
um véu de poeira avança
dançam teus olhos sobre os meus



essa vertiginosa tendência a inebriar-se
gosto cálido do encontro enlevado no labirinto
reflete no ser amado uma conjetura ébria...

Eu-aviso e a Ausência

O poetizar e o desejo no emaranhado das peles
Como a doce nostalgia pode consumir a alma...?
Fica em mim a parte que sou de alguém ausente...
Quem é na chegada que possuo apenas na partida?


Doce melancolia...

Desgosto de inquietação
Que olhos são esses?
A terra treme
E de antenome
Se veste o meu
O teu coração
...no Serenar a vida perde o ritmo
Minhas flores cheias transbordam


Da Natureza em Mim

e nos conduza a
uma luz augural
toda criatura


A Cidade

São Paulo assusta quem chega.
Comovidos com as multiplicações das pedras,
a cada degrau,
à sorte,
lançam-se jovens, loucos, adultos, aventureiros,
todos entretidos com a improvável felicidade


Somos homens pálidos demais, categóricos burlescos, amantes das
Vênus dotadas de misteriosos desejos, todos fatos que bloqueiam ou suprimem a possibilidade do vislumbre...
Laura-Mulher apenas na lembrança, nada mais!


*Laura é uma personagem criada por Erllen Nadine, escritora rara, e a acompanha em algumas prosas dotadas de uma pura sensibilidade e belas descrições determinantes na sua escrita.