sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alomorfia ou Taxonomia da Dor



O poeta exige e, 
mesmo no lirismo, 
nega-se a seu próprio sentir verdadeiramente, 
tal "a dor que deveras sente" 
( Pessoa  exigente) 
no descompasso de sua sede literária. 
Duas coisas lhe ocorrem: 
mergulhado num quarto vazio, 
tentar arrumar a mente cansada 
e, no entanto, 
comparar-se a Ephemeridae de tão curta vida, 
ser prisioneiro de seu destino, 
servir de isca aos peixes.


14 comentários:

  1. Essas palavras trazem reflexão... sentir as coisas com uma melhor percepção. A negação em quem escreve é algo muito comum algumas vezes, como conclusões momentâneas sobre o que sente, coisas de momento, um modo dramático de ser e viver também ...
    Belas palavras!Gostei bastante.

    Abraço. Bom Dia ^^

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Escrever também requer um pouco de ver-se a certa distancia. Cálculo burlado na linha fria do não-dizer fadado ao acerto de um choque térmico.

      Excluir
  2. tentei um dia categorizar todas as dores que [pres]senti. multipliquei-as pelo expoente e descobri que cem anos de vida não chegariam para concluir a tese de doutoramento da vida. agora sei as dores, mas engano-as, por entre sorrisos, devaneios e sonhos falsos. incomodada, mergulha no aquário em sossego-peixe. e eu volto, por instantes, a saber nadar...
    abraço!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Experimentar perder o fôlego enfiando a cabeça no aquário do loft é um ato conceitual, não? Observe que Kant se ausenta momentaneamente da aspereza insólita do objeto moderno.
      Vidro, água e uma cabeça que observa peixes ao contrário, tão caro, o sangue coagula sais de banho. Um ser humano com ardor no globo ocular, calculando a própria manifestação do sentir em devaneio torto. Uma pariação retrógada com cheiro de sardinha no ecrã da realidade factual.

      Até a próxima, Jorge!

      Excluir
  3. Perfeito!! Esse poeta não é um fingidor...
    É um poeta exige(dor).
    Belíssimo o que o Sr. Borges diz.Amei!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A dor para passar de estado emocional, pura sensação, deve ser tomada não mais nesta condição e sim como uma palavra, morfema "rarefeito" em estado puro, ou seja, se necessário, ausente.

      Excluir
  4. Quando deixamos de acreditar no amor
    Pois alguém brincou tanto com o nosso
    Lembrar-se de você apenas aumenta a dor
    Simplesmente esquecer você eu não posso

    A vida se tornou dias sofridos de solidão
    Quero permanecer sóbrio e não desistir
    Encontrar alguém pra curar meu coração
    Mesmo sabendo que só você me faz existir


    "comecei, modifique, termine... Junção poética..."

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vou tentar, meu amigo:

      Quando deixamos de acreditar no amor
      Pois alguém brincou tanto com o nosso
      Lembrar-se de você apenas aumenta a dor
      Simplesmente esquecer-lhe eu não posso

      A vida se tornou dias sofridos de solidão
      Quero permanecer sóbrio em pleno devir
      Encontrar alguém pra curar esse coração
      A existência sua que ainda reside em mim

      Na minha boca sentindo o mesmo sabor
      Não dos beijos bordados em nossas almas
      De dois corpos provando amargo licor

      Onde ninguém lapidou tristezas tão raras
      Num lugar onde sorte venha em larga escala
      De cair no sonho e se perder na imensidão

      Lá devo ter plena coragem para dizer sim
      Olhando o horizonte com os pés no chão

      Perceber que chegaria o meu tempo enfim

      Excluir
  5. Obrigada pela visita e pelo bonito comentário.
    "mergulhado num quarto vazio tenta arrumar a mente cansada". Interessante esta frase. Penso que a melhor forma, embora difícil, de descansar a mente é esvaziá-la. Bonito poema.
    Abraço

    ResponderExcluir
  6. Algumas escolhas, a poesia entre elas, predispõem à dor que deveras se vai sentir pela vida afora. A menos que se aprendam outras lições.
    Agradeço sua visita e o comentário.
    Abraço.

    ResponderExcluir
  7. O poeta constrói nas letras um eu que é mais verdadeiro pra si próprio, do que pra quem o lê.

    ResponderExcluir
  8. Bom dia!
    Como diz Fernando Pessoa;
    " O poeta é um fingidor.
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente."

    Achei adorável seu blog.
    Grande abraço
    se cuida

    ResponderExcluir
  9. E fingindo vai-se acreditando que não sente, o que estás a sentir. E com esse pensamento, escreve com a ideia de: "Sentir? Sinta quem lê!".
    Belo poema. Gostei muito daqui, e já estou seguindo...
    Agradeço por teu comentário, adorável.
    Até breve!!

    ResponderExcluir
  10. destino é algo que definitivamente me intriga. Terá ele assim tanto poder sobre meus caminhos que eu não seja capaz de domá-lo?

    ResponderExcluir